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CRIPTOMOEDAS – Como a volatilidade desses criptoativos pode afetar o valor das empresas.

Por Lucas Jochem

A primeira moeda digital foi o Bitcoin, criada em 2009, com objetivo de possibilitar transações financeiras entre partes sem a necessidade de um intermediário. E, para garantir a segurança dessas transações, foi criado o Blockchain, que de modo simplificado pode ser entendido como uma rede organizada em ordem cronológica que registra as transações. Com a popularização das moedas digitais já existem mais 4.000 moedas digitais diferentes, logo é de grande relevância para as empresas entender o funcionamento dessas moedas, seus benefícios e riscos.

Nas empresas, as moedas digitais podem exercer diversos papéis, desde uma opção de investimentos até como meio de pagamento de clientes. Grandes empresas como PayPal, WholeFoods, Starbucks e Microsoft já aceitam Bitcoins como forma de pagamento. Sendo assim, estes ativos digitais devem ser levados em consideração na apuração do valor de mercado das empresas.

Neste artigo o enfoque será na volatilidade das moedas digitais. Para tanto, escolhemos o Bitcoin como objeto de estudo, devido à sua popularidade e facilidade de acesso às suas cotações históricas.

Estudo da Volatilidade do Bitcoin

O ponto de partida deste estudo será uma análise da cotação histórica do Bitcoin avaliado em dólares. O gráfico a seguir apresenta as cotações deste criptoativo de 2015 até 2021:

Como pode ser visto no gráfico o Bitcoin teve uma grande valorização, aproximadamente 7.000%, durante o período do gráfico, porém houveram períodos de queda durante esses anos também. Sendo assim, é importante estudar o comportamento dessa moeda digital para que possamos entender o que pode acontecer no futuro.

O próximo objeto de estudo serão os retornos diários do Bitcoin, com objetivo de mensurar a volatilidade. Para tanto, a seguir apresentamos o histograma da distribuição dos retornos diários:

Com base no gráfico podemos afirmar que a Distribuição dos Retornos não segue uma Distribuição Normal, ou seja, a média histórica dos retornos não é zero e o desvio padrão histórico não é um. Além disso podemos perceber a desproporção no gráfico para retornos negativos do lado esquerdo, evidenciando assim a existência de caudas na destruição dos retornos, também conhecido como “fat tail”.

Para medir a volatilidade optamos pela utilização do modelo de volatilidade GARCH (Generalized Autoregressive Conditional Heteroskedasticity). Este modelo foi desenvolvido em 1982 por Robert F. Engle e de maneira resumida, o modelo consegue medir a mudança na variância de uma serie temporal dependente do tempo. Sendo assim, a seguir apresentamos o comportamento da volatilidade do Bitcoin conforme o modelo GARCH:

Com base no gráfico podemos observar que existem muitos picos de volatilidade durante o período, assim, devemos entender volatilidade como mudança na cotação da moeda, que apesar que historicamente ter se valorizado pode sofrer grandes variações tanto negativas quanto positivas. Logo, é necessário muito cuidado por parte das empresas que utilizam essa moeda digital de alguma forma em seus negócios, pois em questão de horas podem ocorrer grandes variações no valor da moeda. Para que possamos entender a magnitude da volatilidade do Bitcoin, a seguir apresentamos um gráfico que comprara a volatilidade da moeda digital com a volatilidade do Mini índice Bovespa que é um dos ativos mais voláteis negociados na Bolsa de Valores do Brasil:

Com base no gráfico podemos perceber quão alta é a volatilidade do Bitcoin, durante todo o período analisado, pois apenas durante o ano de 2020 as curvas se aproximaram. De modo geral, as moedas digitais apresentam comportamentos similares, principalmente as moedas que possuem alto volume de negociação como o Bitcoin. Nos casos em que a moeda é pouco negociada, os riscos podem ser ainda maiores devido à falta de liquidez.

Conclusão:

Esse alto grau de volatilidade pode gerar impactos na avaliação do valor de mercado das empresas, dependendo da relevância da moeda digital na operação. O principal impacto é gerado no momento da mensuração dos riscos, principalmente se houver uma grande relevância desse ativo na operação. Por exemplo, as empresas que recebem de seus clientes em Bitcoins, possuem um aumento considerável nos riscos que a empresa está exposta.

Com certeza o Bitcoin e todas as moedas digitais representam um grande avanço tecnológico e as empresas devem começar a pensar em como inserir esse tipo de tecnologia em suas operações. No entanto, é preciso cuidado para que esse processo de modernização não cause um aumento exponencial a riscos. Neste sentido, junto com a adoção das moedas digitais devem ser implantadas medidas de hedge para proteger as empresas da alta volatilidade das moedas digitais.

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